
Barriguinha de “tanquinho”, braços fortes, pernas definidas… As academias de ginástica estão cheias de pessoas que desejam ganhar massa muscular rápido e ter um corpo “malhado”.
De olho nas demandas desse segmento da sociedade, o comércio em torno da malhação não pára de crescer e o resultado é que podemos encontrar muito facilmente suplementos como isotônicos, vitaminas e proteínas sendo vendidos em farmácias, supermercados e academias.
A dissertação de mestrado da nutricionista Márcia Daskal Hirschbruch, pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, revelou que 62% dos jovens entre 15 e 25 anos que freqüentam academias na capital paulista consomem ou já
consumiram algum tipo de suplemento alimentar. Responderam a pesquisa 201 freqüentadores de academias, entre 15 e 25 anos.
Os isotônicos, também conhecidos como “bebidas esportivas”, são os suplementos mais usados e eles são tão comuns que as pessoas não os consideram como um suplemento. Essas bebidas são compostas de água, algum tipo de açúcar e sódio, uma mistura que favorece a absorção de líquidos e não traz riscos à saúde, explica Marcia Daskal.
Na opinião de Cláudio Silva, presidente da Associação Brasileira de Academias – ACAD, as bebidas esportivas são usadas desnecessariamente. O presidente da ACAD, que também é médico, ressalta que para até uma hora de exercício, moderado ou intenso, não é necessário nenhum tipo de hidratação que não seja só água para recompor as perdas obtidas durante as atividades físicas. Os isotônicos são indicados para exercícios muitos longos e de grande intensidade. Entretanto, parece que poucas pessoas sabem disso: segundo Daskal, o Brasil é o terceiro consumidor mundial de bebidas esportivas.
Outro suplemento que tem sido apreciado por freqüentadores de academias é o de proteína; esse suplemento é comumente recomendado por professores, amigos, “personal trainers” ou por balconistas de estabelecimentos de venda. Claudio e Márcia compartilham da mesma opinião em relação a essa
suplementação: ela, na maioria das vezes, é desnecessária.
O uso da suplementação de proteína é dispensável para o praticante de atividade física normal ou mesmo um atleta de nível mediano que treina uma vez por dia. Excluindo os atletas de alto nível, 99% das pessoas que praticam atividades físicas não precisam de suplementação de proteína além da dieta normal, esclarece o presidente da ACAD; ele ressalta que a suplementação é totalmente contra-indicada. Existe um consenso da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, de 2003, renovado em 2008, que deixa claro que grande parte dos suplementos – incluindo proteínas, aminoácidos e creatina – é contra-indicada para pessoas que praticam regularmente atividade física.
Os dois especialistas esclarecem que o uso do suplemento de proteína não é proibido, mas que é possível obter a quantidade necessária de proteína através de uma dieta balanceada. A nutricionista lembra que “o organismo não consegue estocar proteína e o excesso o corpo transforma em gordura. O primeiro e mais comum efeito colateral que a gente vê é o ganho de gordura abdominal. Algumas pessoas acham que, pelo fato de estarem treinando, precisam comer só grelhado com salada, essas pessoas não terão a dose de carboidratos necessária e não farão a queima de gordura.”
O que mais preocupa os especialistas e a sociedade do mundo todo é a qualidade dos suplementos que as pessoas estão usando, pois há fortes indícios de que, nem todos os produtos disponíveis, são idôneos e têm a sua composição declarada corretamente. Esse é o grande risco que os suplementos oferecem à saúde.
Os entrevistados ressaltam que ao usar um produto

“mascarado”, o consumidor pode estar ingerindo também outras substâncias como fertilizante
s de planta, farinha, que não vai te trazer benefício algum, ou ainda talco, hormônios, anabolizantes…. Claudio lembra que algumas dessas substâncias, mesmo em pequenas quantidades, presentes em alguns suplementos, às vezes podem trazer um resultado mais rápido, coisa que muitas vezes um complexo de proteína sério não consegue, entretanto, trazem junto com o resultado graves riscos à saúde do consumidor. Outro problema é que, em busca de um resultado rápido, tem gente tomando doses exageradas de proteína de maneira errada, comenta o médico.
Daskal esclarece que no Brasil existe a regulamentação da Anvisa e os produtos para serem vendidos deveriam ter o registro no Ministério da Saúde. Entretanto, é possível encontrar esses produtos nas prateleiras porque ninguém fiscaliza a produção de suplementos fora do Brasil e, por essa razão, os consumidores devem ter atenção – principalmente com os produtos importados.
Os dois entrevistados recomendam que, antes de optar por tomar um suplemento, o ideal é procurar um médio ou nutricionista. Esses profissionais são capacitados para avaliar a necessidade real do uso de suplementos, que produtos são reconhecidos e a dose certa.
A busca desmedida por resultados estéticos, nem sempre realistas, alimenta uma indústria de suplementos alimentares, cirurgia plástica e procedimentos estéticos, entre outras coisas – comenta Márcia.
Na opinião do presidente da ACAD, em muitos casos há um abandono da saúde em busca de resultados mágicos. A associação, preocupada com a qualidade da atividade física, tem trabalhado em campanhas no intuito de disseminar um conceito de academia focado para o bem estar e qualidade de vida e menos voltado na qualidade estética.
Marcia Dalkal entende que o caminho para combater essa corrida desnecessária às fórmulas mágicas é divulgar a informação correta. A nutricionista ressalta que o maior problema em relação aos suplementos na verdade é que as pessoas não vão parar só aí. “Em geral, quando as pessoas começam a não ver resultado nos suplementos, e mesmo que elas estejam consumindo um produto idôneo, que seja aprovado por pesquisas e o uso seja recomendado, como ela também não vai ver resultado, o perigo é que ela recorra ao uso de anabolizantes, que foi uma das coisas percebidas na pesquisa e que nos deixou mais alarmado.”